NOTA DE IMPRENSA: ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS DIRECIONADOS A CRIANÇAS: DISPONIBILIDADE, INFORMAÇÃO NUTRICIONAL COMPLEMENTAR E OPINIÃO DE CONSUMIDORES INFANTIS

21/09/2015 20:56

Esta pesquisa foi realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Nutrição (PPGN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vinculada ao Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE). É resultado de dissertação de Mestrado defendida pela nutricionista Natália Durigon Zucchi em julho de 2015, sob orientação da professora do Departamento de Nutrição da UFSC Giovanna Medeiros Rataichesck Fiates. A aluna foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A dissertação é parte de um projeto amplo contemplado pelo edital CNPq/ANVISA N° 05/2014 intitulado “Rotulagem nutricional em alimentos industrializados brasileiros: análise multitemática sobre a utilização pelo consumidor e influência nas escolhas”. A partir deste projeto, foi realizado um levantamento censitário de embalagens de alimentos industrializados disponíveis à venda em um grande supermercado de Florianópolis/SC. Todas as embalagens foram fotografadas, sendo que 535 delas apresentavam estratégias de marketing direcionadas ao público infantil e foram classificadas como direcionados a crianças. No presente estudo, os 535 rótulos foram analisados de modo a, classificar os produtos segundo o grau de processamento, quantificar e qualificar a presença de Informação Nutricional Complementar (INC). Também foi objetivo conhecer a opinião de crianças sobre embalagens de produtos ultraprocessados direcionados a elas.

Para a classificação dos alimentos com base no grau de processamento foi utilizado o Guia Alimentar para a População Brasileira (2014). Alimentos ultraprocessados são os lanches prontos para consumo, petiscos ou sobremesas (pães, biscoitos, bolos e doces, cereais matinais açucarados, refrigerantes e bebidas açucaradas) e produtos prontos ao aquecer criados para substituir refeições preparadas em casa (pizza congelada, salsichas, nuggets de frango, macarrão instantâneo).

Já para a quantificação e qualificação das INC nas embalagens de alimentos ultraprocessados, foi utilizada a resolução RDC nº 54/2012 da ANVISA. Segundo esta legislação, a INC corresponde a qualquer representação que “afirme, sugira ou implique que um produto possui propriedades nutricionais particulares em relação ao seu valor energético, conteúdo de proteínas, gorduras, carboidratos, fibra alimentar, vitaminas e/ou minerais”. Como exemplo de INC tem-se: fonte de vitaminas, não contém gorduras trans, fonte de fibras, sem adição de açúcares.

Após a identificação dos alimentos direcionados a crianças, ultraprocessados e com INC no painel frontal, foram escolhidas quatro embalagens de alimentos (n=3) e bebida (n=1) para auxiliar na condução de grupos focais. As embalagens eram de alimentos ultraprocessados prontos para o consumo ou para aquecer, que pudessem ser consumidos em refeições principais ou em lanches, com diferentes tipos de INC nos painéis frontais. Uma delas oferecia um brinde.

Foram conduzidos, por intermédio de um roteiro semi-estruturado, nove grupos focais com 49 crianças (27 meninos) com idades entre 8 a 10 anos, de uma escola particular de Florianópolis/SC. Os grupos foram formados por 4-6 participantes e separados por sexo. As entrevistas foram gravadas, transcritas verbatim e analisadas pela técnica de análise de conteúdo.

Dentre os 535 alimentos industrializados direcionados a crianças, aproximadamente 90% foram classificados como ultraprocessados. Dentre estes, quase a metade apresentava um ou mais tipos de INC no painel frontal, a maioria relativa à presença ou ao aumento de vitaminas e minerais em produtos como biscoito recheado, iogurte, suco artificial e gelatina. A INC referente a isenção de algum componente mais frequente foi relativa à gordura trans. Os alimentos em cujas embalagens foi identificado o maior número de INC foram biscoitos e bolos recheados, iogurtes adoçados e balas.

Os resultados apontam para a importância em regulamentar quando uma INC pode ser apresentada na embalagem de um determinado produto, pois o destaque à fortificação de alimentos ultraprocessados direcionados a crianças é no mínimo questionável.

Com relação aos grupos focais, as crianças participantes demonstraram reconhecer a utilização de imagens em embalagens como estratégia de marketing, demonstraram uma postura crítica e questionadora perante a presença da INC. Estavam atentos a informações na rotulagem de um modo geral, incluindo a data de validade e o símbolo de transgênico (T), apesar de na maioria dos grupos não compreenderem o seu significado.

Por seu papel como consumidores influenciadores das compras da família, bem como futuros consumidores, crianças podem se tornar o foco de ações voltadas para a utilização e interpretação das informações presentes na rotulagem nutricional. Deste modo, sugerem-se também estratégias voltadas à socialização do público infantil como consumidor, motivando a leitura e interpretação dos rótulos.

 

Contato: Giovanna Medeiros Rataichesck Fiates/ giovanna.fiates@ufsc.br / (48) 3721-9784