Notificação dos açúcares de adição em rótulos de alimentos industrializados comercializados no Brasil

20/07/2016 12:49

Esta pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Nutrição (PPGN) no âmbito do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É resultado da dissertação de mestrado defendida pela nutricionista Tailane Scapin, em julho de 2016, sob a orientação da professora Rossana Pacheco da Costa Proença em parceria com a professora substituta Ana Carolina Fernandes. O estudo foi apoiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por meio da concessão de bolsa de mestrado à aluna.

A dissertação está inserida em um projeto amplo sobre rotulagem de alimentos que conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

A presente pesquisa teve como objetivo investigar como os açúcares de adição são notificados na lista de ingredientes dos rótulos de alimentos industrializados disponíveis para venda em um supermercado pertencente a uma das dez maiores redes de supermercados do Brasil. Os açúcares de adição são açúcares e xaropes adicionados aos alimentos e bebidas durante o processamento industrial, a preparação culinária ou à mesa. Além dos açúcares de adição em si, os alimentos podem apresentar ingredientes passíveis de contê-los (IPAA), definidos como aqueles que, devido à composição conhecida ou à característica doce, podem apresentar açúcares de adição em sua formulação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a limitação no consumo dos açúcares de adição para não mais que 10% das calorias totais diárias em virtude das evidências da relação entre o consumo excessivo desses açúcares de adição e prejuízos à saúde. Contudo, não há declaração quantitativa dos açúcares de adição na informação nutricional dos rótulos, sendo a lista de ingredientes a única forma de identificação da presença desses açúcares nos alimentos industrializados.

Foram analisados 4539 alimentos industrializados, dos quais 70% apresentavam açúcares de adição ou Ingredientes passíveis de contê-los (IPAA) em sua composição. Houve a identificação de 262 nomenclaturas diferentes para se referir aos açúcares de adição ou IPAA. Os tipos de açúcares de adição mais frequentes foram açúcar, seguido de maltodextrina e xarope de glicose. Os IPAA mais frequentes foram gelatina, chocolate e polpa de tomate.

Os alimentos incluídos na pesquisa foram divididos segundo os grupos de alimentos propostos pela legislação brasileira, resolução RDC nº 359 de 2003 da ANVISA. Em sete dos oito grupos alimentares constantes na legislação, houve a presença de açúcares de adição em mais da metade dos alimentos que compunham cada grupo. O grupo VII, dos açúcares e produtos com energia proveniente de carboidratos e gorduras, foi o que apresentou maior prevalência de alimentos com açúcares de adição. Conforme esperado, quase a totalidade dos alimentos desse grupo (92%), que inclui biscoitos doces, bolos, geleias e chocolate, apresentou açúcares de adição. Porém, também houve prevalência elevada de alimentos com açúcares de adição em grupos de alimentos de sabor predominantemente salgado, como os grupos II – verduras, hortaliças e conservas vegetais (58%), V – carnes e ovos (60%) e VIII – molhos, temperos prontos, caldos, sopas e pratos preparados (61%). O grupo IV, de leite e derivados, também apresentou elevada prevalência de alimentos contendo açúcares de adição, equivalente a 63,5%.

Assim, este estudo evidencia que a maioria dos alimentos industrializados disponíveis para venda no Brasil contém açúcares de adição ou IPAA em sua composição, que pode dificultar o seguimento das recomendações de limitação do consumo propostas pela Organização Mundial da Saúde. Além disso, a variedade de nomenclaturas pode levar os consumidores a ingerir os açúcares de adição sem conhecimento, mesmo que consultem a lista de ingredientes. Tal consequência pode ocorrer em, no mínimo, duas situações. A primeira é a utilização de denominações de ingredientes utilizando termos de difícil compreensão, como a maltodextrina, e a identificação como sendo açúcares de adição. A segunda situação é a dificuldade de identificação da presença de ingredientes passíveis de conter açúcares de adição, como, por exemplo, a polpa de tomate. Nesse contexto, sugere-se a revisão da legislação brasileira de rotulagem de alimentos em dois aspectos. Primeiro, tornando obrigatória a declaração quantitativa dos açúcares de adição na tabela de informações nutricional, para facilitar a identificação e a quantificação dos açúcares de adição pelos consumidores. Segundo, estabelecendo regras mais claras quanto à padronização das nomenclaturas dos ingredientes na lista dos rótulos.

Contatos: Tailane Scapin (tailane.ntr@gmail.com)

Ana Carolina Fernandes (anacarolinafernandes@gmail.com)

Rossana Pacheco da Costa Proença (rossana.costa@ufsc.br)

Documento em PDF: Nota de Imprensa – Dissertação NUPPRE PPGN UFSC Tailane Scapin 2016