Pesquisa realizada no Programa de Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGN/UFSC) teve o objetivo de verificar a associação da ingestão alimentar de ácidos graxos (AGs) ômega-3 e 6 com síndrome metabólica (SM) e seus respectivos componentes (circunferência da cintura elevada, hipertensão arterial, glicemia de jejum elevada, baixa quantidade de HDL-c ou o “bom colesterol” no sangue, e alta quantidade de triglicerídeos no sangue) em adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos de idade.
A SM abrange um conjunto de desordens no organismo que aumentam o risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus do tipo 2 e doenças cardiovasculares. As causas da SM ainda precisam ser totalmente esclarecidas, mas acredita-se que a ingestão alimentar de AGs ômega-3 e 6 pode estar associada com a SM e seus componentes.
A literatura mostra possíveis efeitos benéficos dos ômega-3 na SM, porém os efeitos dos AGs ômega-6 ainda não estão claros. Os AGs ômega-3 podem ser encontrados em peixes, óleo de soja, óleo de canola e óleo e farinha de linhaça, e os óleos vegetais são os alimentos que apresentam maior concentração de AGs ômega-6.
A pesquisa foi realizada com os dados do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), realizado entre 2013-2014 em 124 municípios brasileiros com mais de 100.000 habitantes, inclusive Florianópolis-SC, abrangendo escolas públicas e privadas com alunos entre 12 a 17 anos de idade. Foram coletadas informações sociodemográficas (sexo, idade, tipo de escola, área urbana/rural e região do país), consumo alimentar por meio de um recordatório dos alimentos consumidos no dia anterior, bem como dados de peso, altura, circunferência da cintura, pressão arterial e exames de sangue.
Os resultados de 36.751 adolescentes brasileiros mostraram que a SM esteve presente em 2,6% desta população. Além disso, foi encontrado nos adolescentes investigados a ingestão média diária de 1,71g de AGs ômega-3, e de 13,56g de AGs ômega-6. A proporção entre esses dois AGs está adequada segundo recomendações internacionais. Observou-se que na área rural ingeriu mais AGs ômega-3 e 6 comparado com a área urbana, e a ingestão destes dois AGs diferiu entre regiões brasileiras.
Os resultados também mostraram que em meninas entre 15-17 anos, maior ingestão de AGs ômega-3 foi associada à menor chance de SM. Para os AGs ômega-6 os resultados foram conflitantes, pois em meninos entre 12-14 anos, maior ingestão de AGs ômega-6 foi associada à maior chance de SM e à menor chance de “colesterol bom” baixo.
Portanto, essa pesquisa concluiu que os achados sugerem efeitos benéficos dos AGs ômega-3 na SM em meninas entre 15-17 anos, e que são necessários mais estudos para verificar os efeitos dos AGs ômega-6.
O estudo citado faz parte da dissertação de mestrado de Camila Tureck, orientada pelo Prof. Dr. Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos e coorientada pela Dra. Anabelle Retondario. A mestranda recebeu bolsa de estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Informações adicionais: Camila Tureck, camilaatureck@gmail.com; Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos, f.vasconcelos@ufsc.br.