Divulgação Portaria CAPES 206/2018

16/09/2018 21:07

A Portaria CAPES n206/2018 dispõe sobre a obrigatoriedade de citação da CAPES por bolsistas e todos aqueles que tenham recebido auxílio à pesquisa desta Fundação Pública. A citação deve ser feita em artigos, dissertações, teses e quaisquer trabalhos produzidos ou publicados, em qualquer mídia, em quaisquer línguas, que decorram de atividades financiadas, integral ou parcialmente, por este órgão público federal.

Leia a portaria na íntegra em: http://www.imprensanacional.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/39729251/do1-2018-09-05-portaria-n-206-de-4-de-setembro-de-2018-39729135

Métricas responsáveis

12/09/2018 10:32

Por Fabrício Marques

As queixas sobre o uso indiscriminado do fator de impacto (FI) como parâmetro de qualidade de publicações científicas geraram uma autocrítica do Institute for Scientific Information, responsável pela produção do indicador. No final de junho, a entidade, que é um braço da empresa Clarivate Analytics, divulgou a atualização anual da base de dados Journal Citation Reports, que apresenta o FI de 11.655 periódicos científicos do mundo. Dessa vez, no lugar de apresentar apenas o tradicional ranking com o número médio de citações recebido por cada revista em um intervalo de dois anos, a base passou a oferecer também informações que mostram o contexto em que esse índice foi produzido. Agora é possível ter acesso a dados suplementares, como uma curva de distribuição mostrando todos os artigos publicados em cada periódico e quantas vezes cada um dos papers foi citado.

Esse tipo de informação busca atenuar as críticas de que o índice, alardeado por revistas e seus autores como um parâmetro de prestígio, frequentemente mescla artigos altamente citados com outros de baixa repercussão. “A grande maioria dos periódicos científicos contém artigos que seguem um padrão harmônico. Mas aqueles que publicam textos com padrões múltiplos tornam-se de fato um problema”, diz o químico Rogério Meneghini, coordenador científico da biblioteca eletrônica Scielo Brasil. A nova abordagem também ajuda a mostrar se o desempenho de uma publicação está vinculado a um grande conjunto de artigos – como acontece com periódicos como Science, Nature, PLOS ou Scientific Reports – ou se é resultado de um número pequeno de papers selecionados de forma muito rigorosa. “Os gráficos de distribuição de citações foram desenvolvidos para mostrar o que é o fator de impacto por dentro. A ideia é ver não apenas o número, mas enxergar através dele”, explicou Marie McVeigh, diretora de produtos do Journal Citation Reports, em seu perfil no Twitter. O objetivo dessa nova orientação, segundo ela, é desestimular o uso isolado do FI e mostrar a diversidade de dados que lastreia o índice.

Uma distorção comum é tomar o fator de impacto de um periódico como representativo de artigos ou autores

Outras informações detalhadas também foram disponibilizadas. É possível ver o cálculo da mediana das citações, que, ao contrário da média, não é influenciada pelos extremos. Outra novidade é a distinção de citações feitas em artigos de pesquisa, que evidenciam a repercussão entre os pares, e em artigos de revisão, aqueles que organizam a bibliografia existente sobre um tema.

Em um paper publicado no site da Times Higher Education, Jonathan Adams, diretor do Institute for Scientific Information, diz que a nova orientação faz parte de um esforço para promover as chamadas “métricas responsáveis” e propôs que os responsáveis por outros indicadores se esforcem para revelar o contexto em que são produzidos – ele mencionou o exemplo do Índice-H, cujo uso indiscriminado, sem levar em conta a área do conhecimento e o tempo de carreira dos pesquisadores, também recebe muitas críticas (ver Pesquisa FAPESP nº 207). “Temos nos dedicado a municiar os avaliadores de pesquisas a fazer escolhas responsáveis de acordo com a necessidade. Nós e outras organizações de dados precisamos trabalhar para apoiar o uso responsável de métricas que a pesquisa de classe mundial merece.”

Publicado há 44 anos, o FI se consolidou como o mais importante indicador da influência dos periódicos, passou a orientar a estratégia de editores e tornou-se um chamariz para autores sequiosos por ampliar a visibilidade de seus trabalhos. Ao mesmo tempo, gerou distorções. A mais comum é tomar o índice, que mostra o desempenho médio de um periódico, como representativo da qualidade individual ou da originalidade de todos os seus artigos – o mérito deles, na melhor das hipóteses, limita-se à chancela de processo de avaliação rigoroso. Outra percepção enganosa é considerar que a publicação de um paper em uma revista de alto impacto é passaporte para uma boa repercussão do artigo. “Dá-se muito valor para onde o artigo foi publicado – e o fator de impacto da revista é um parâmetro de orientação importante – e muito pouco para a contribuição de cada paper ao avanço do conhecimento científico”, diz o biólogo molecular Adeilton Brandão, coeditor dasMemórias do Instituto Oswaldo Cruz, publicação científica criada em 1907 que, no mais recente Journal Citation Reports, aparece em 2º lugar entre os periódicos do Brasil, com FI de 2,833. Isso significa que, em média, os cerca de 240 artigos da revista publicados no biênio anterior foram citados em periódicos pouco mais de 2,8 vezes no ano de 2017 (ver quadro). “Não temos o hábito de acompanhar o que acontece com os artigos depois que eles são divulgados. É como se o trabalho do pesquisador culminasse com o momento em que os resultados são divulgados em uma boa revista, quando na verdade esse é apenas o começo de sua trajetória.” As revistas do país, observa Brandão, têm dificuldade de atrair artigos com potencial de alto impacto. “A estrutura da pesquisa brasileira está bastante ancorada na pós-graduação, cujos programas são fortemente incentivados por órgãos de avaliação a publicar seus resultados em revistas de fora. É difícil para os nossos periódicos reverter essa desvantagem”, afirma.

A busca de um FI elevado a qualquer preço abre espaço para desvios éticos. Não é incomum que editores tentem manipular o índice, abusando, por exemplo, do recurso da autocitação – que é o exagero de menções, em artigos de um determinado periódico, a outros papers que ele publicou – ou da chamada citação cruzada, uma espécie de ação entre editores de dois periódicos, por meio do qual um cita os artigos do outro. São estratégias de risco. Ao divulgar o mais recente Journal Citation Reports, a Clarivate Analytics anunciou a suspensão de 20 periódicos de suas listas, por apresentarem um padrão de citações considerado anômalo. Por dois anos, essas revistas ficarão sem FI. O Brasil, que chegou a ter seis periódicos suspensos do JCR em 2013 (ver Pesquisa FAPESP nº 213), estava fora da lista de suspensões deste ano.

Do ponto de vista de editores brasileiros, as mudanças na apresentação do FI são bem-vindas. “O fator de impacto não é um indicador absoluto sobre a qualidade de uma publicação. Há revistas que publicam trabalhos teóricos importantes, mas não obtêm FI alto porque os temas interessam a poucas pessoas”, diz Marc André Meyers, editor-chefe do Journal of Materials Research and Technology (JMRT), o periódico do Brasil com maior FI em 2018 – o índice chegou a 3,398. Meyers, professor da Universidade da Califórnia, San Diego, pondera que a divulgação de informações contextualizadas tende a ter pouco impacto na dinâmica das publicações científicas. “O FI é um parâmetro consagrado para atrair bons autores e isso continua a ser uma preocupação central dos editores de qualquer boa revista. Aceitar um artigo é sempre um investimento de risco. Às vezes o manuscrito parece promissor, mas acaba obtendo poucas citações.” O JMRT, criado em 2011 pela Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM), adotou uma estratégia agressiva para elevar seu fator de impacto, trazendo um grande volume de autores estrangeiros e sendo altamente seletivo na escolha dos papers (ver Pesquisa FAPESP nº 263).

Para Jean Paul Metzger, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e editor-chefe de Perspectives in Ecology and Conservation, o FI de 2,766 obtido pela publicação é resultado de um trabalho recente para ampliar a sua visibilidade – o periódico, que sequer estava entre os 10 mais citados no Journal Citation Reports de 2017, apareceu em 3º lugar na lista de 2018. A revista, que até recentemente se chamava Natureza e Conservação, fez uma aposta em um nicho de artigos científicos que avaliam políticas públicas em ecologia. “Entre os nossospapers mais citados, destacam-se um trabalho que avalia as mudanças da Lei de Proteção da Vegetação Nativa, mais conhecida como o novo Código Florestal brasileiro, que foi escrito em linguagem acessível e subsidiou inclusive discussões no Supremo Tribunal Federal, e também um conjunto de artigos sobre os efeitos da tragédia de Mariana. São temas que despertam atenção de um público amplo, tanto de pesquisadores quanto de tomadores de decisão, e atraem bons autores interessados em discutir os efeitos de políticas públicas”, ele afirma. Metzger reconhece que o mau uso do fator de impacto é um problema, mas avalia que, apesar das limitações, o índice segue tendo utilidade. “O número de artigos publicados em qualquer área do conhecimento vem crescendo de forma exponencial e é preciso ter algum tipo de triagem e privilegiar a leitura de um conjunto de artigos. O FI permite selecionar de forma mais atenta revistas que concentram artigos de impacto”, diz.

Fonte: http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/08/20/metricas-responsaveis/

ICCAS 2019, Cardiff, Wales – registration and call for papers now open

10/09/2018 01:46

The 11th International Conference on Culinary Arts and Sciences is coming to Cardiff Metropolitan University in June 2019.

This will be the first time that ICCAS has been held in Wales and the conference’s theme will investigate how food can be used to support and develop a more hospitable society.

Another first is our pre-conference activity on the 26th June. This postgraduate symposium will include presentations from Elsevier and The Conversation on how researchers can approach writing for both academic and non-academic audiences. Whilst this activity targets postgraduate students and early career researchers, it is available to all ICCAS delegates.

We are now inviting full papers, abstracts and posters based on original research which reflect the overall theme of Food and Society. The submission deadline is 30th November 2018.

Early bird registration is now available until 14th March 2019 with full conference packages costing £495 and student packages costing £310.

https://www.cardiffmet.ac.uk/management/research/wctr/ICCAS2019/Pages/default.aspx

Bebidas à base de soja escondem que contêm ingredientes transgênicos — Rede Brasil Atual

10/09/2018 01:17

Bebidas à base de soja escondem que contêm ingredientes transgênicos

Embora 96,5% da soja cultivada no Brasil seja geneticamente modificada, 76 marcas dessas bebidas não trazem em seu rótulo o símbolo de transgênico (T). É o que mostra uma pesquisa da UFSC

São Paulo – Com estratégias de publicidade que costumam enaltecer as vantagens à saúde dos consumidores, alimentos à base de sojapodem esconder o uso de ingredientes transgênicos em seus rótulos. É o que indica a tese de doutorado da nutricionista Rayza Dal Molin Cortese, intitulada “Análise da rotulagem de alimentos elaborados a partir de organismos geneticamente modificados: a situação no Brasil”, defendida em julho, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Nutrição, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Além da soja, o estudo teve o objetivo de analisar também a presença de ingredientes derivados de milho e algodão, possivelmente transgênicos, em rótulos de alimentos vendidos no Brasil – o segundo país que mais planta sementes transgênicas no mundo. Respondem, atualmente, por 96,5% da soja, 88,4% do milho e 78,3% do algodão cultivados no Brasil.

A falta de evidências que comprovem a segurança dos transgênicos para o meio ambiente e a saúde tem sido motivo de divergências, nas últimas duas décadas, na comunidade científica. Há estudos, por exemplo, que demonstram os malefícios do consumo de alimentos transgênicos à saúde, principalmente quando considerados os agrotóxicos associados.

Para Rayza Cortese, diante da insegurança no consumo desses alimentos os cidadãos devem ser informados sobre a presença de ingredientes geneticamente modificados no rótulo dos alimentos. Desse modo, caberia a cada indivíduo exercer seu direito de escolha, a partir de informações claras e adequadas.

A opinião da pesquisadora, não à toa, é lei no Brasil. O Decreto nº 4.680/2003 determina que todos os alimentos e ingredientes alimentares que contenham ou sejam produzidos a partir de transgênicos, com presença acima de 1% do produto, devem ser rotulados. Além disso, aPortaria 2.658/2003 do Ministério da Justiça também estabelece a identificação de transgênicos no rótulo, por meio do símbolo “T” no centro de um triângulo amarelo.

A presença dessas informações no rótulo de alimentos transgênicos pode não ser mais obrigatória caso o Projeto de Lei nº 4.148/2008, aprovado pela Câmara, em 2015, seja aprovado no Senado, onde tramita agora sob o nome de Projeto de Lei da Câmara (PLC nº 34/2015).

Em sua pesquisa de doutorado, Rayza analisou um total de 5.048 alimentos. A análise de 76 bebidas a base de soja demonstrou que todas continham ingredientes derivados de soja, sendo que 31 também continham ingredientes derivados de milho. Considerando a crescente produção de transgênicos no país, presume-se que os ingredientes derivados desses produtos sejam provenientes de plantas transgênicas.

Os ingredientes derivados de milho e soja, passíveis de serem transgênicos identificados na lista de ingredientes dos rótulos destas bebidas são a proteína de soja, extrato de soja, soja em grãos, amido de milho e maltodextrina – ingrediente que pode ser obtido a partir do milho.

O extrato de soja foi o ingrediente com maior incidência nos rótulos, aparecendo em 42 bebidas, seguido pela proteína de soja e a maltodextrina, identificadas em 31 bebidas. De acordo com a pesquisadora, nenhuma das bebidas analisadas continha o símbolo de transgênico no rótulo.

Arquivo/EBCprodutos de soja
A lei no Brasil prevê rotulagem de alimentos que contenham ou sejam produzidos a partir de transgênicos, com presença acima de 1% do produto

Metodologia

O estudo de doutorado “Análise da rotulagem de alimentos elaborados a partir de organismos geneticamente modificados: a situação no Brasil”, iniciou com uma revisão de literatura para identificar possíveis ingredientes transgênicos derivados de soja, milho e algodão.  A partir desta revisão, a pesquisadora identificou na literatura científica vários produtos e subprodutos derivados dessas três culturas, possivelmente transgênicos, que são utilizados pela indústria alimentícia para a fabricação de diversos alimentos. Tais resultados foram recentemente publicados na revista Public Health Nutrition. 

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A seguir, Rayza fez um censo em um estabelecimento pertencente a uma das dez maiores redes de supermercados do Brasil, com o objetivo de identificar a presença desses ingredientes nos alimentos industrializados. Registrou-se assim informações sobre a identificação do alimento, como denominação, nome comercial, marca, fabricante e país de origem.

Os rótulos foram ainda fotografados para posterior identificação, transcrição e análise da lista de ingredientes, além de conferir a presença de alguma informação no rótulo que identificasse a presença de transgênicos. Ao todo, foram coletadas informações de 5.048 alimentos, ao longo de cinco meses, entre os anos de 2013 e 2014. Os alimentos foram classificados de acordo com os grupos e subgrupos definidos pela legislação brasileira de rotulagem (RDC no 359/2003).

Para analisar as informações presentes na lista de ingredientes de todos os alimentos, Rayza Dal Molin Cortese utilizou a técnica denominada “mineração de texto”, a qual possibilitou identificar os alimentos que continham pelo menos um ingrediente derivado de soja, milho ou algodão. Ela também analisou a frequência de citação dos ingredientes, de modo a descobrir quais deles mais apareceram nos alimentos analisados.

Essas etapas resultaram em uma lista de produtos e subprodutos derivados de soja, milho e algodão, possivelmente transgênicos, presentes em grande parte dos alimentos industrializados analisados no estudo.

“Os resultados da presente tese mostram que o consumo de alimentos industrializados sem declaração da presença de transgênicos pode aumentar as chances de consumo destes alimentos. No entanto, muitos destes alimentos não têm a composição claramente identificada no rótulo. Isso pode ser devido à legislação brasileira, que obriga a rotulagem apenas daqueles alimentos que contiverem mais de 1% de transgênicos, ou seja, os alimentos que contiverem menos de 1% ficam isentos da obrigatoriedade da rotulagem, o que não significa que não contenham transgênicos”, explica Rayza.

Ela também enfatiza a ausência de informações sobre fiscalização em relação ao cumprimento do percentual de ingredientes possivelmente transgênicos nos alimentos. “Salvo melhor juízo, pode-se supor que a indústria alimentícia pode omitir essa informação, não rotulando o produto, mesmo que contenha mais de 1%”, pondera.

De acordo com a pesquisadora a divulgação de informações para a população sobre a presença de transgênicos nos alimentos precisa ser mais abrangente, por meio da elaboração de guias para auxiliar os consumidores a identificar presença de transgênicos e de cursos sobre a temática para nutricionistas.

“A ausência dessa abordagem na versão do Guia Alimentar para a População Brasileira de 2014 demonstra a necessidade da inserção de recomendações que levem em conta o princípio da precaução, o direito à informação e que possam contribuir para a garantia da segurança alimentar e nutricional em todas as suas dimensões”, conclui.

Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/revistas/143/Bebidas-a-base-de-soja-escondem-que-contem-ingredientes-transgenicos/

Modificações na plataforma Lattes

10/09/2018 01:07

A plataforma Lattes, uma base de dados que reúne mais de 5 milhões de currículos de pesquisadores e estudantes do país, vai passar por um processo de modernização até o final do ano para corrigir falhas na atualização das informações. Também está programada a sua integração com o Orcid (sigla para Open Researcher and Contributor ID), uma assinatura digital de 16 números utilizada no meio acadêmico para identificar inequivocamente autores de trabalhos científicos (ver Pesquisa FAPESP nº 238). Um dos objetivos é aprimorar a qualidade das informações sobre a trajetória e a contribuição de cada pesquisador ao automatizar o preenchimento de dados sobre artigos científicos indexados em bases como Web of Science e Scopus, que já têm parceria com o Orcid. A reforma busca tornar a atualização dos currículos mais rápida e amigável do que é hoje, como informou Mario Neto Borges, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em entrevista concedida em junho ao site Direto da Ciência.

A confiança nas informações baseia-se hoje em mecanismos de autogestão: o próprio pesquisador que fornece os dados se responsabiliza por sua veracidade, podendo ser punido se falsificá-los. “O CNPq dispõe de um comitê que analisa denúncias de fraudes e estabelece recomendações”, explica José Ricardo de Santana, diretor de cooperação institucional do CNPq. A sincronização com o Orcid vai refinar a certificação dos dados dos usuários ao cruzá-los de forma automática com identificadores como o Digital Object Identifier (DOI), para artigos, e o International Standard Name Identifier (Isni), para instituições. “Após a mudança, não será possível ligar um pesquisador a uma instituição à qual ele não pertença ou identificá-lo erroneamente como autor de um artigo”, observa Santana. A ideia é de que, no futuro, esse tipo de informação seja atualizado de forma automática nos currículos.

Para que a integração com o Orcid beneficie o Lattes, será importante a adesão de instituições de ensino e pesquisa de todo o país. O primeiro passo foi dado em dezembro de 2017, com o lançamento de um consórcio envolvendo o Orcid, o CNPq, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a biblioteca eletrônica SciELO, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). “A interface do Orcid permite criar pontes entre diferentes sistemas de informação, fazendo com que possam operar em conjunto e reconhecer os dados uns dos outros”, explica Ana Heredia, coordenadora da organização sem fins lucrativos Orcid na América Latina.

Segundo ela, mais de 120 mil pesquisadores brasileiros já dispõem de sua assinatura digital única e o país está na sexta posição no ranking de nações que mais utilizam o identificador. A expectativa é de que a integração possa diminuir o retrabalho de inserção de dados em diversos sistemas e dar mais visibilidade à produção dos pesquisadores. “Um estrangeiro que acesse o perfil de um autor brasileiro no site do Orcid poderá obter dados do Lattes que não estão necessariamente indexados em bases internacionais, como capítulos de livros, teses e dissertações e também informações sobre a participação em bancas examinadoras”, esclarece Ana.

Idealizada no final do século passado como um banco nacional de currículos acadêmicos, a plataforma Lattes rapidamente se tornou referência no cotidiano de universidades e agências de fomento. “Antes dela, era difícil obter informações confiáveis sobre as qualificações de um pesquisador, como, por exemplo, onde se formou e quantos alunos orientou”, recorda-se o bioquímico Hernan Chaimovich, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e presidente do CNPq entre 2015 e 2016. Desde a década de 1980 o CNPq dispunha de pelo menos três bancos de dados, abastecidos periodicamente, com informações sobre a produção de pesquisadores. A expansão da internet e a disseminação do sistema operacional Windows no ambiente acadêmico, na segunda metade dos anos 1990, tornou viável a ideia de criar um formulário único para cadastrar os dados acadêmicos de estudantes, docentes e cientistas. A empreitada, coordenada pelo engenheiro Evando Mirra (1943-2018), então presidente do CNPq, reuniu técnicos do órgão, da empresa Multisoft e dos grupos Stela, vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina, e Cesar, oriundo da Federal de Pernambuco, que desenvolveram um tipo de currículo integrando as versões que já existiam.

A reforma busca tornar a atualização dos currículos mais rápida e amigável do que é hoje

A disseminação da ferramenta fez com que, em 2002, sua tecnologia fosse adotada por uma rede internacional que reúne fontes de informação sobre ciência e tecnologia, a Rede ScienTI. Em 2008, o modelo brasileiro embasou a criação de uma versão lusitana do Lattes, batizada de Plataforma DeGóis, mantida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), ligada ao governo português. Dez anos depois, a DeGóis começou a ser substituída por um sistema mais moderno, a Ciência Vitae. “A nova plataforma será central no ecossistema de ciência e tecnologia, servindo como ferramenta para a realização de qualquer ato administrativo baseado em currículos”, explica João Mendes Moreira, diretor da área de conhecimento científico da unidade de computação da FCT. “Pretende-se contribuir para a modernização administrativa e reduzir a carga burocrática que recai sobre pesquisadores”, diz.

A necessidade de modernizar a plataforma não significa que ela esteja obsoleta, observa o cientista da computação Roberto Marcondes Cesar Junior, pesquisador do Instituto de Matemática e Estatística da USP. “Trata-se de uma base de dados valiosa e que atende muito bem às necessidades brasileiras”, diz. Dados coletados do Lattes são utilizados pela Capes para avaliar programas de pós-graduação. Agências de fomento também usam a ferramenta para gerar relatórios e apreciar pesquisadores que submetem projetos. Recentemente, o Lattes passou a ser utilizado pelo Ministério do Planejamento para formar um Banco de Talentos de servidores públicos, com o objetivo de mostrar as qualificações de cada um deles e selecionar funcionários talhados para tarefas específicas.

Marcondes também destaca o papel dos currículos como fonte de informação para pesquisadores que buscam dados sobre a ciência brasileira. “Como o Brasil é o único país com uma plataforma que registra ativamente o trabalho de toda a sua comunidade científica, é possível estudar fenômenos e tendências utilizando esses dados”, afirma. Cientistas da computação passaram a usar a gigantesca massa de informações dos currículos para extrair recortes de dados e testar novos algoritmos – entre os estudos já produzidos, destacam-se análises originais sobre a mobilidade dos pesquisadores brasileiros e a criação de árvores genealógicas de diferentes campos do conhecimento.

O pesquisador da USP foi um dos criadores do scriptLattes, ferramenta de software livre desenvolvida em 2005 para gerar, de forma automática, relatórios de produção científica, com informações, por exemplo, sobre redes de colaboração e coautoria entre membros de grupos de pesquisa. Para Marcondes, a discussão sobre a modernização deveria incluir propostas para facilitar o acesso a seus dados. “Uma política restritiva instituída em 2015 vem prejudicando os pesquisadores que utilizam o Lattes para fazer análises.” Até abril de 2015 os currículos eram livremente disponibilizados para consulta e coleta de dados. Após essa data, o CNPq passou a utilizar um sistema de verificação que emprega o recurso do Captcha, a digitação de um código de segurança para o acesso aos currículos. “Esse sistema foi adotado para evitar a extração automática de informações e minimizar problemas relacionados à segurança da informação e de sobrecarga, que causaria lentidão e queda no serviço”, esclarece José Ricardo de Santana, do CNPq. Uma petição foi criada para pressionar a agência federal a reverter a decisão, sem sucesso. “A restrição dificulta a produção de novos estudos sobre a ciência brasileira, ainda que cientistas da computação estejam criando formas de superar essa barreira”, alerta Marcondes.

Rogério Mugnaini, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP que já usou a base de currículos em pesquisas, sustenta que as informações sobre publicações científicas contidas na plataforma poderiam ser combinadas com dados de fontes nacionais e internacionais para gerar indicadores mais fidedignos capazes de avaliar a produção da comunidade científica brasileira. “Nas referências bibliográficas dos currículos há informação sobre a produção em revistas não indexadas nas bases de dados de revistas tradicionais, além de teses, livros e outros documentos”, ressalta. Ele também considera que a plataforma poderia ganhar funcionalidades de uma mídia social, a exemplo do que ocorreu com ferramentas que permitem a interação entre usuários e o compartilhamento de arquivos, entre elas o ResearchGate e o Mendeley. “Da forma que está, funciona apenas como um currículo on-line”, avalia Mugnaini. “Ao incorporar recursos de mídia social, o Lattes estimularia parcerias e poderia promover o acesso instantâneo a informações científicas.”

Marcondes Cesar sugere cautela na ampliação do escopo do Lattes. “Por ocupar um lugar de destaque no sistema de ciência e tecnologia nacional, não acho que a plataforma deva concorrer com mídias sociais, a menos que elas comecem a ser mais utilizadas em avaliações da produção científica”, observa. Tais mudanças estão em avaliação, mas não devem ocorrer logo. “Funcionalidades como a troca de mensagens instantâneas entre pesquisadores seriam interessantes, mas ainda estão em estágio preliminar no plano de modernização”, avisa José Ricardo Santana, do CNPq.

Fonte: http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/08/16/elevacao-da-plataforma/